sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Saio deixando um pedacinho meu em cada texto

Olho no espelho e vejo os mesmos olhos castanhos e pequenos de sempre, as mesmas bochechas grandes, o mesmo queixo pequeno, a mesma cara de quando era criança. Mas agora um pouco mais magra, os olhos com um certo brilho diferente, o sorriso com malícia e o rosto com marcas de lembranças de uma infância agitada e uma pré-adolescência cheia de espinhas. São nesses pequenos detalhes que percebo o quanto mudei.

Os cílios que outrora eram pequenos e delicados, fazem curvas sobre meus olhos por conta do rímel. A boca pequena que outrora vivia melada de sorvete e doces, agora tem como marca os lábios vermelhos. As marcas e cicatrizes da infância e da pré-adolescência a maquiagem faz questão de esconder, exceto por uma pequena cicatriz no canto do olho direito. O cabelo que era feito uma juba de leão cheio de cachos que voavam para todo lado, agora é liso e curto.

Não sou mais aquela garotinha que corria descalço por aí brincando de pique-esconde. Não espero mais pelo Papai Noel na véspera de Natal, não tenho mais festas de aniversário com o tema da Branca de Neve, tampouco um monte de amigos como antes. Não vou mais ao parquinho todos os domingos brincar na areia, minha coleção de Barbies já não existe mais. Não acredito mais que existam monstros na fábrica abandonada da minha cidade, e descobri que eu não tenho nenhum "poder do vento". Não sonho mais em ser veterinária, muito menos em ser fonoaudióloga igual a minha tia preferida.

Só hoje, percebo o quanto foi duro crescer. O quanto foi duro aprender que certas coisas existiam apenas na minha imaginação. Só hoje, percebo o quanto amadureci e o quanto mudei. Não sou mais a garotinha do cabelo rebelde, não sou mais tão inocente quanto antes. Meus pensamentos não são mais tão puros, meus sonhos não são mais relacionados a qual Barbie será a próxima para completar minha coleção.

Um pouco relutante, aceito que eu mudei. Não carrego comigo a mesma ingenuidade de antes. Meu corpo mudou. Meu cabelo mudou. Meus pensamentos mudaram. Meus gostos mudaram. Eu mudei. Não ouço mais as mesmas músicas, não mantenho mais as mesmas amizades. Deixei muita gente sair da minha vida, me livrei de vários acúmulos e abri espaço para gente nova entrar. Parei de cultivar velhos hábitos, abandonei alguns vícios e criei novos. Abri um pouco mais a mente. Passei a ver o mundo com outros os olhos. Aprendi a discordar, a questionar, a criar opiniões. Mudei tanto, cresci tanto que ás vezes sinto que não caibo mais em mim. Por isso saio escrevendo por aí, saio deixando um pedacinho meu em cada texto, em cada frase clichê, em cada palavra solta. E ao mesmo tempo que faço isso, vou registrando inúmeras fases da metamorfose ambulante que sou.

Um comentário:

  1. Nem sempre as mudanças são notadas, a não ser pelo turbilhão de responsabilidades e sentimentos anteriormente desconhecidos.
    A vida nos deixa marcas para que, no futuro, possamos ver nossa evolução.

    beijos
    http://eitalaurinha.blogspot.com

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