sexta-feira, 27 de maio de 2016

E se fosse você?

Essa semana aconteceu algo absurdo, uma garota de 17 anos foi estuprada por 30 caras que como se não bastassem tal ato, fizeram questão de filmar e expor o crime para quem quisesse ver na internet. Não consigo parar de pensar nisso, tento me distrair, ler sobre outros assuntos, mas tem um questionamento que não sai da minha cabeça: “e se fosse eu?”. E se não fosse a Beatriz, fosse eu quem tivesse sido a vítima? Ontem foi ela, mas hoje posso ser eu. Posso ser eu andando na rua e um estranho me abordar. Posso ser seu a garota que vão se sentir no direito de usarem apenas por estar com um short curto. Ontem a Beatriz, hoje eu, amanhã pode ser uma amiga minha ou prima, uma tia ou até mesmo minha mãe e minha vó. Nenhuma de nós estamos a salvo disso.

Assim como a Beatriz, sou adolescente, sou mulher, gosto de ir em festas e uso roupas curtas. Assim como a Beatriz faço parte de uma sociedade machista, onde homens se sentem no direito de mexerem comigo na rua apenas por eu estar usando um short ou uma blusinha. Assim como a Beatriz todos os dias sofro abusos, ouço comentários como “ôh delícia” ou “ôh lá em casa” e piadinhas como “mulher no transito perigo constante” ou "você é mulher não vai entender". Assim como a Beatriz sou vítima todos os dias apenas por ser mulher em uma sociedade com um pensamento tão retrógrado.

É inevitável não me colocar no lugar dela, uma garota de 17 anos de idade. Uma garota que independente da roupa ou lugares que frequentava foi vítima de um crime bárbaro. É inevitável não tomar as dores dela, uma garota que certamente tinha sonhos. Uma garota que tem uma família, e que além de ser violentada foi publicamente humilhada. É inevitável não lembra de inúmeras situações em que poderia ter sido eu essa garota.

Em 2013, eu tinha 15 anos e como toda adolescente sempre gostei de sair, ir em shows e me divertir, assim como nunca vi problemas em usar um shortinho curto ou passar um batom vermelho apenas porque me sentia bonita. Em 2013, eu uma garota de 15 anos num show poderia ter sido mais um desses casos por aí. Eu uma garota de 15 anos, que estava me divertindo com minhas amigas fui abordada por um cara que veio logo tentando me beijar. Eu não queria aquilo, não queria beijar ele. Eu disse, não adiantou. Havia um monte de pessoas a minha volta, tenho certeza que todas viram a cena. Eu estava me debatendo enquanto o cara envolvia os braços na minha cintura e tentava me beijar a força. Minhas amigas? Já tinham sumido. Apenas uma das três que estavam comigo que tentou me ajudar, mas um outro cara encurralou ela também. E isso foi tudo em meio a multidão, com um monte de testemunhas, mas todos se calaram. Quanto mais eu tentava me soltar, mais era segurada a força, até que senti uma outra pessoa prendendo meus braços. Eu estava presa. Não tinha nem mesmo forças mais para pedir socorro e enquanto meus olhos percorriam pela multidão encontrei minha amiga na mesma situação comigo. Não sei da onde tirei forças, mas consegui dar uma joelhada no cara que estava me agarrando. Não sei dizer se foi muito forte ou não, mas ele me soltou e o amigo que estava segurando minha mão também. E o outro cara que estava em cima da minha amiga a soltou para ver como os amigos estavam. Naquela hora senti vários olhares sobre mim, a maioria de reprovação. E me senti culpada, não sabia o porquê e nem o que tinha feito de errado. Mas senti que a culpa era minha. Depois disso tudo aquilo perdeu a graça pra mim. Não tinha mais vontade de ficar naquele parque de exposições e liguei para meu pai em prantos. No outro dia, na casa da minha vó, tive que escutar que parte do ocorrido era culpa minha por ter ido com um short “tão curto” em um show.


Hoje leio muitos comentários maldosos, muita gente julgando a Beatriz e dizendo que se ela estivesse na igreja rezando não teria acontecido. Vejo comentários falando que ela não deveria usar roupas curtas, que ela estava “pedindo”. E minha vontade é de chorar. Porque há quase 3 anos atrás poderia ter sido eu, poderia ter sido a minha história. E ainda pode ser, assim como ela, todos os dias quando saio na rua estou correndo risco de ser a próxima vítima. Assim como ela, todas as vezes que saio para algum barzinho ou show com minhas amigas, elas e eu corremos risco de sofrermos abusos. Isso levando em conta apenas os “abusos sexuais” e deixando um pouco de lado todos os comentários sobre nosso corpo que na maioria das vezes aguentamos caladas, que aliás também é um tipo de abuso. E você? Já se colocou no lugar da Beatriz? Já pensou que ontem foi ela, mas hoje pode ser você ou alguém que você gosta?

Um comentário:

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