Nunca
tivemos muitas coisas em comum. Enquanto eu preferia ler, ele
insistia em perder tempo no Xbox. Sempre fui o tipo de pessoa que
planejava tudo, já ele nunca esteve nem aí pra nada e se eu o
cobrasse um pouco de compromisso, acabávamos brigando. Éramos
assim, completamente diferentes, completamente opostos. Mas ainda sim
estávamos juntos, ainda sim nos amávamos. Ele sempre me zombava por
ser tão preocupada, dizia que em meio a tantas preocupações e
planos eu acabaria me perdendo. E não é que ele tinha razão? Eu me
perdi. Me perdi em meio a minha organização. Tornei-me uma bagunça.
Perdi o rumo. Perdi o foco. Perdi tudo. Perdi ele.
Botei
um fim na nossa história. Era um sábado ensolarado, como sempre
estávamos discutindo. Já havia decidido, iria por um fim naquilo.
Como sempre, segui meus planos. Não tinha mais porque continuar
delongando aquilo, iriamos só nos machucar mais e mais. Acabar era o
mais sensato a se fazer. Afinal eu não cederia naquela discussão e
sabia que ele também não. Dois arianos, dois bicudos, dois
orgulhosos. Que final poderia ter, senão aquele? Respirei fundo e
disse que ele poderia fazer o que bem entendesse, que não me devia
mais satisfações. Ele entendeu o que eu quis dizer. Ele sabia que
estava chegando ao fim, mas fingiu não entender, tentou não aceitar
a minha decisão. E mais uma vez eu disse, ele não me devia mais
satisfações, estava livre para curtir e ficar de papinho com quem
quisesse. Mais uma vez ele me deu a chance de voltar atrás na minha
decisão, perguntou o que eu queria dizer com aquilo. Respirei fundo,
me segurei para não fazer o que ele queria, para não voltar atrás
na minha decisão. Foi então que eu disse “acabou”. Ele se calou
e me deixou. E então o mundo todo desmoronou. Eu que até algumas
horas antes estava certa que isso seria o melhor, agora estava em
prantos. Não tinha sido o melhor. Uma onda de sentimentos me invadiu
e tudo que eu soube fazer o restante daquele dia foi chorar. Chorei
por ele. Chorei pelo meu relacionamento acabado. Chorei pela fome da
África. Chorei pelo meu bisavô falecido. Chorei pelas crianças de
rua. Chorei por tudo.
Durante
semanas meu humor ficou afetado. Sorrir tinha se tornado uma tarefa
difícil. Assim como ser simpática com os outros. Fui me afastando.
Afastei pessoas de mim. Me fechei em meu próprio mundo e lá fiquei.
Lá fiquei suplicando para que ele voltasse e me salvasse. Me
salvasse de mim mesma e do poço onde havia me jogado. Mas nada
aconteceu. Ele não voltou. Meus amigos alguns acabaram desistindo,
outros se cansaram e uns poucos permaneceram me esperando. O mundo
todo havia desabado e já não tinha muito a ser feito. Eu não tinha
forças para reconstruir tudo. Não tinha nem ao menos vontade. Foi
aí que decidi jogar tudo para os ares. Que decidi que estava na hora
de matar alguns sentimentos e jogar fora algumas lembranças. O amor.
Ah, ele foi o primeiro que matei. Um tiro certeiro e papum… Fiquei
mais leve.
Depois
de matar o amor, o resto foi mais fácil. Coloquei todas as minhas
lembranças e memórias dentro de um baú, tranquei e joguei tudo em
alto-mar. Eu seria feliz. Não teria lembranças nem fantasmas
passados para me perturbarem. Eu seria feliz, claro que seria. Jamais
me apaixonaria por alguém novamente. Não haveria mais amor. Tudo
que haveria era uma vida calma e tranquila, sem lugar para paixões,
sem tempo para aventuras amorosas. Eu poderia voltar a fazer planos e
seguir eles. Nunca mais ficaria perdida na bagunça. Nunca mais
perderia meu rumo. Eu havia matado o amor e junto com ele matei
também minhas fraquezas. Eu estava livre. Pela primeira vez em muito
tempo, nada mais me prendia a lugar algum. Eu estava livre para ir e
vir. Estava livre para conhecer quantos caras eu quisesse, para sair
com quem eu quisesse e jamais teria que carregar o fardo de estar
apaixonada. Finalmente livre. Teria sensação melhor?
Adorei o conteúdo do blog, um dos meus temas preferidos quando busco conhecer blogs novos. Sucesso.
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