segunda-feira, 13 de março de 2017

Era amor, sempre foi amor

Ele me olhava com aqueles olhos grandes, me olhava e sorria como quem diz "eu sei exatamente o que você está pensando". E eu não resisti, me joguei em seus braços. Era sempre assim, ele me ganhava numa facilidade incrível e tudo o que eu queria era me jogar em seus braços. Ele tinha uma risada tão gostosa de ouvir, que eu poderia muito bem gravar e colocar como toque no celular, mas ele insistia em dizer que era feia.

Nós sempre tivemos nossas diferenças. Sempre fomos completos opostos, eramos o tipo de casal que tudo gerava brigas. Até mesmo a escolha de um filme no cinema ou o que jantar na sexta-feira a noite, eram motivos de brigas. Ele sempre queria assistir filmes de ação, enquanto eu não abria mão das minhas comédias românticas. Não havia nada em que combinássemos, senão o que sentíamos um pelo o outro. Era amor, sempre foi amor. E foi esse amor que nos manteve um ao lado do outro por tanto tempo. Não importava o quão séria tinha sido a briga, no fim da noite ele envolvia os braços em torno do meu corpo e eu o abraçava apertado.

Houve um tempo em que achei que seria para sempre. As brigas haviam cessado, parecia que finalmente, estávamos seguindo o mesmo caminho. Mas eu não poderia estar mais errada. Estávamos cada um seguindo seu caminho, como já era de se esperar, caminhos opostos. Ele conseguiu um emprego em outro lugar, e eu, bem, eu fiquei aqui. Ele foi embora com a promessa que voltaria algum dia para me buscar. E eu o esperei. O esperei durante as noites quentes de verão e os dias frios de inverno. Eu esperei. Por muito tempo fiquei esperando que a porta se abrisse e ele entrasse com um sorriso no rosto dizendo que estava de volta, que não conseguiria viver sem mim. Mas nada disso aconteceu. Ele não voltou. Ele nunca mais voltou.

Os primeiros meses sem ele, foram os mais difíceis da minha vida. Tudo naquele minusculo apartamento me lembrava dele, desde o pequeno rasgo no sofá até os quadros na parede. Era um ninho de lembranças. Lembranças das quais eu precisava me livrar. Eu estava presa e não conseguia achar uma saída, senão fazer o mesmo que ele: partir. E foi o que fiz. Fui embora sem olhar para trás. Não levei nada comigo. Deixei todas as lembranças para trás, me libertei daquelas amarras que me prendiam por tanto tempo.

Outro dia, depois de muito tempo, esbarrei com ele. Ele não pareceu me reconhecer, mas eu o reconheci. O corte de cabelo estava diferente, o modo como ele se vestia também, mas o sorriso, o sorriso continuava o mesmo, assim como aquele par de olhos castanhos, que agora, estavam escondidos por trás de uma armação marrom de óculos. Naquele momento, percebi que tudo havia acabado. Até então, por mais óbvio que fosse, eu não conseguia aceitar isso. Uma parte minha sempre quis acreditar que ele voltaria algum dia e me tomaria em seus braços. Mas ali, apenas dois metros de distância dele, eu pude ter o meu tão esperado desfecho. Acabou. E sinceramente? Estava tudo bem. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava livre. Livre para seguir em frente. Livre para me entregar a um novo amor.

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