quarta-feira, 6 de abril de 2016

Não foi para sempre

Olhos castanhos. Sorriso largo. Queixo quadrado. Lábios rosados. Bochechas com covinhas. Nariz um pouco achatado. Mãos grandes. Quadris estreitos. Pernas longas. Cabelos castanhos e bagunçados. Sempre sorrindo. Sempre com um brilho no olhar. Sempre dizendo sem usar uma palavra se quer. Sempre nos meus sonhos. Sempre me bagunçando. Sempre fazendo com que eu me perca. Lembro-me da primeira vez que o vi, ele não passava de um garoto qualquer. Nossa primeira conversa não passou de um "oi". Estava tudo bem, ele era apenas um garoto e eu apenas uma garota. Eu tinha decidido, não estava interessada. Mas então, o encontrei novamente, o que outrora não passou de um "oi", tornou-se uma conversa longa e demorada. Falamos sobre tantas coisas e ao mesmo tempo nada. Foi aí que me peguei olhando para aquele par de olhos castanhos e pensando sobre o quanto era bom tê-lo ali, perto de mim. Na terceira conversa já não estávamos mais tão tímidos quanto na primeira, mas ao contrário da segunda, falamos menos, mas começamos a nos conhecer mais. Descobri que ele tinha um sobrinho pequeno pelo qual era apaixonado. Contei  a ele sobre meus cachorros e a minha paixão por livros. Ele me disse que já havia se apaixonado certa vez e que tinha se magoado. Disse á ele que do amor nada sabia. Ele riu e disse que eu tinha sorte por isso. Nos despedimos e cada um seguiu seu rumo com a promessa de nos encontrarmos novamente. E assim foi indo. Todo dia um encontro, uma conversa, novas descobertas. Fui me encantando. Me encantei. Me apaixonei. Queria aqueles olhos castanhos me olhando, queria ser o motivo daquele sorriso, queria aquelas mãos entrelaçadas nas minhas e aqueles lábios colados nos meus.

Era ele. Tinha que ser ele. Disse á mim mesma que acontecesse o que acontecesse, jamais sairia do lado dele. Afinal eu tinha certeza. Eu que nunca tive certezas, pela primeira vez estava tendo. Eu tinha certeza que o amava. Tinha certeza que era ele. Sempre foi ele. E se dependesse de mim sempre seria. Não entendia nada daquilo. Tudo era novo. Não sabia nem ao menos o que estava sentindo. Só tinha a certeza de quê eu o queria, o queria como nunca quis ninguém. Já havia tido algumas paixonites, outros garotos já haviam passado pela minha vida, mas ninguém nunca tinha me deixado daquele jeito. Eu nunca havia sentido aquilo. Aquele friozinho na barriga, aquela ansiedade por vê-lo, aquela vontade de sorrir o tempo todo e aquela paz de estar ao lado dele. Nada me importava. Não mais. A única coisa que importava. A única coisa que eu queria era ele. Era tê-lo ali do meu lado. Era me perder em seu cheiro. Era me aconchegar em seus braços. Era navegar por seus lábios. Era ama-lo. E deixar que ele me amasse de volta. 

Um dia disse á ele. Disse que o amava. Disse que estaria sempre ali, ao seu lado. Ele me respondeu dando um de seus sorrisos mais largos e enlaçou seus braços ao meu redor. Por um momento esqueci de tudo, esqueci do mundo, esqueci dos meus problemas. Era apenas ele. Apenas ele que me importava. Todo o resto não passava de um borrão a minha volta. O mundo poderia acabar naquele instante que eu nem me importaria. Porque a única coisa que importava era ele. Nada mais. Ninguém mais importava. Apenas ele. Apenas o meu garoto dos olhos castanhos. O garoto do sorriso largo, do queixo quadrado e do nariz achatado. O garoto que carregava o mundo nos olhos e um mistério a ser desvendado em seus lábios. Naquele dia tive a certeza. Seria para sempre. Nós seriamos para sempre. Não teria fim, nem meio. Apenas um começo. Um começo a cada dia. Um começo a cada segundo. Cada momento seria único. E a cada começo, a cada recomeço, nosso amor só aumentaria mais. Porque ele também me amava. Mesmo não dizendo, eu sabia. Eu tinha a certeza. Ele não dizia em palavras, mas seus olhos diziam. E seus olhos nunca mentiam. Ele me amava. Ele sempre me amaria.

Não foi para sempre. Ele não me amava. Ele nunca me amou. Aqueles olhos castanhos e aquele sorriso largo mentiram para mim. Nada passou de uma brincadeira. De uma ilusão. Eu tola caí. Acreditei, confiei. Entreguei a ele tudo que tinha. Deixei meu coração em suas mãos e ele o esmagou. O partiu em dois. Me partiu. Me quebrou. Ele me traiu. Ele disse que eu poderia confiar. E me apunhalou pelas costas. Eu confiei. Achei que estava segura ao seu lado. Achei que aquele par de olhos castanhos seria incapaz de trazer consigo alguma mentira. Mas ele mentiu. Tudo o que ele queria era se divertir. Sua desculpa foi "sou novo demais, não sei amar". Eu também era nova. Não entendia nada sobre o assunto. Mal tinha ingressado na vida de adulta. Tudo era novo. E ele sabia. Ele sabia que eu tinha medo. Ele sabia o quão insegura eu era. Ele me deu segurança. Me fez acreditar. Fez com que eu o amasse. Eu o amei. O amei como nunca amei ninguém. O amei mais que a mim mesma. O amei mais que meus cachorros e meus livros. Dei tudo de mim para ele. Fiz de tudo para que ele me amasse de volta. E tudo que ele fez foi brincar. Ele brincou o tempo todo. Brincou com o que eu sentia. Brincou com o meu coração. Brincou com a minha inocência. Se aproveitou da minha ingenuidade, da minha falta de experiência e fez de mim apenas mais uma. Uma qualquer. Enquanto fiz dele o meu maior motivo. O meu maior bem. Eu o amaria por toda a minha vida, tinha certeza disso. Doeu. Doeu muito. E ainda dói ás vezes. Mas passou.

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