domingo, 3 de abril de 2016

Ela ansiava por liberdade

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Allie queria ser livre. A família, os amigos, o namorado, a faculdade, o trabalho, tudo aquilo parecia uma prisão pra ela. A prisão que ela mesma criou. Estava na hora de ir embora, disso tinha certeza, só não sabia que atitude tomar em relação a isso. Em sua poupança havia o dinheiro que ela vinha juntado desde que começará a trabalhar com 15 anos, na época a ideia de juntar o dinheiro era para bancar uma viagem pela Europa. Agora com 20, faltando apenas um ano para se formar na faculdade de direito com um namorado ciumento, uma mãe carente e um pai ausente, a ideia da viagem para o exterior não parece tão atraente quanto mudar de cidade. Há tantos lugares em que ela poderia ir, mas nenhum que ela realmente quisesse ir. A verdade é que por mais cansada que esteja de tudo, Allie queria não ter que fugir assim dos problemas. Seu namoro de quatro anos claramente está no fim, e por mais que tente, não há nada que ela possa fazer. Assim como o casamento de seus pais. Não é novidade para ninguém que seu pai mantém uma relação fora do casamento e que esse é o motivo da depressão da mãe. Seu trabalho apenas a deixa mais esgotada, ficar o dia todo atendendo telefonemas naquele escritório não é bem o que havia imaginado para o seu futuro. E a sensação de que está cada vez mais presa ali naquele lugar a atormenta.

Hoje é o dia. Está decidido. Ela irá embora. Já comprou a passagem, já fez as malas e deixou um bilhete para os pais. Trancou a matrícula na faculdade, se demitiu do emprego e deu um chute no namorado problemático. Foi até o banco, retirou tudo o que pode de sua poupança. Já não estava mais presa. Uma nova Allie estava nascendo naquele exato momento. Sentia-se como a Fênix, precisou morrer para renascer mais forte. Era assim que via seu recomeço, ela estava nascendo de novo, pronta para se tornar uma pessoa diferente do que era. Nas malas haviam apenas o necessário, nada de supérfluo, algumas roupas, sapatos, produtos de higiene, um pouco de maquiagem e alguns livros. Quebrou o chip do celular e comprou um novo. Assim ninguém poderia entrar em contato, só manteria contato com a mãe.

Não tinha um rumo certo, nem um plano em mente. Apenas sabia que aquela era uma nova chance para que as coisas finalmente dessem certo, uma nova chance para finalmente ser feliz de verdade. Foi para longe. Foi para a cidade grande, alugou um quarto numa pensão e lá ficou durante algum tempo. Conheceu pessoas novas, lugares novos, fez até algumas amizades. Não demorou muito para que arranjasse um emprego em um mercadinho do bairro onde morava. Conheceu um cara, saiu com ele uma, duas, três vezes, até que se cansou e decidiu ficar sozinha de novo. Fez amizades que a acompanhavam em baladas, até mesmo amizades que estavam sempre ali por ela. Descobriu que ser advogada não era aquilo que realmente queria. Prestou vestibular e começou um novo curso.

Uma vida nova, uma Allie nova. A mãe vez ou outra ligava, queria saber como a filha estava. Nas ligações, sempre reclamava sobre o quão irresponsável Allie tinha sido, mas ao se despedir fazia questão de lembrar o quanto tinha orgulho dela por conseguir a tão sonhada a liberdade.

Não tinha mais um namorado. A família estava longe. Não trabalhava mais em um escritório com ar-condicionado. Faltavam 5 anos para terminar a faculdade de Jornalismo. Morava em uma pensão. Mas ainda sim, sentia-se feliz. Não sabia explicar como, simplesmente enquanto estava ali, ela sentia-se completa. Não ganhava tão bem quanto antes, mas era o bastante para suprir seus gastos. Segundo sua mãe escrever não a daria dinheiro nem prestígio perante a sociedade, mas fazia Allie feliz e aquilo bastava.

Ela descobriu o que todos passam a vida inteira tentando: como ser feliz. Descobriu que não precisava fazer uma faculdade cara, nem de um namorado de olhos claros segurando sua mão, nem de um trabalho bem remunerado. Descobriu que a coisa toda era mais simples do que ela pensava, para ser feliz bastava apenas se conhecer melhor e deixar para trás todo o peso do passado.

Ser livre era o que ela mais queria ser. Livre para ir e vir. Livre para fazer o que quiser. Mal sabia ela que era a responsável pela sua própria liberdade. Vinte anos passaram-se, até que finalmente, Allie compreendeu. Ela, dona de si, declarou-se livre. Ela, dona de si, se fez feliz.

3 comentários:

  1. nossa que textoooooo, amei. Seu blog é muito legal, já estou seguindo seu ele, será que você pode me ajudar a bater minha meta de 200 seguidores, ps: só falta 5 \o/. Desde de já te agradeço muuuito. Um beijo e sucesso pra você <3

    http://www.agathaalfeu.com.br/

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  2. Allie tem que abrir as asas e voar pela vida e cair de cara na felicidade.. <3 Escreve lindamente bem. Amei!

    Beijão,
    Larissa

    Blog: Perdida em Woodstock

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  3. Amei esse texto, moça! Amo pensar sobre liberdade, e sobre mim mesmo em relação a isso...
    Realmente, só a gente é dona de si, e quem pode nos fazer feliz!
    Curso Psicologia, e escolhi uma abordagem que preza justamente isso, a não vitimização de uma vida, ser responsável por si e por seus atos; ter a capacidade de assumir quem se é de verdade e prover sua própria felicidade; sem ficar somente esperando dos outros. Isso é capaz de mudar uma vida!
    Lindo texto *-*
    Blog Seja Frugal

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