terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sobre príncipes encantados e amor verdadeiro


Durante muito tempo acreditei que algum dia meu príncipe encantado fosse aparecer na minha porta em seu cavalo branco, me pegar em seus braços e me levar daqui. Me permiti acreditar em uma utopia, me permiti viver presa num mundo de ilusões. Por quê? Oras, que garota não quer viver uma linda história de amor? Não me julgue. Tudo que eu queria era ser amada. Queria alguém que me entendesse e aceitasse meus defeitos, que acima de tudo escolhesse ficar ao meu lado.
O problema foi que idealizei tanto um cara perfeito, que esqueci de abrir os olhos para o mundo. Perdi tanto tempo sonhando acordada criando diálogos e cenas românticas na minha cabeça, que me esqueci de viver no mundo real. Não me permiti abrir os olhos. Não quis acreditar que meu príncipe em seu cavalo branco não viria me salvar. Não quis acreditar que minha fada madrinha com sua varinha-de-condão não fosse aparecer e me ajudar a encontrar o amor da minha vida.
Tudo que eu queria não passava de uma grande ilusão. Eu queria alguém perfeito, num mundo imperfeito. Queria que minha história fosse tão mágica quanto a da Cinderela, tão cheia de aventuras quanto a da Mulan e tão romântica quanto o príncipe escalando a torre para salvar a Rapunzel.
Quem pode me julgar? Durante toda a minha infância os contos de fadas foram meus refúgios. Passava horas e horas com um livro nas mãos lendo a história da Branca de Neve e me imaginando em seu lugar. Era um dos meus passatempos favoritos. Ficava pensando o que eu faria de diferente, quais estratégias usaria para conseguir me livrar da Rainha Má, e de uma coisa tinha certeza: jamais aceitaria maçã de estranhos.
Eu queria viver um filme, um conto de fadas. Queria me apaixonar perdidamente e viver um amor profundo e intenso. Passei quase toda minha infância idealizando isso. Na minha cabeça, assim que completasse 15 anos meu príncipe encantado surgiria e inesperadamente me salvaria. Me salvaria do quê? Ah, sabe-se lá. Nunca cheguei a pensar do que exatamente eu queria ser salva, talvez dessa vida monótona do interior ou dos monstros que eu acreditava existirem em baixo da minha cama, nunca tive muita certeza sobre isso. Mas sempre imaginava um garoto enfrentando barreiras e derrubando muralhas apenas para estar ao meu lado, e isso me deixava feliz. E era isso que eu queria: ser feliz. Não me julguem. Eu era apenas uma criança. Uma criança com a imaginação fértil e cheia de sonhos. Uma criança que apesar de nunca ter tido contato com o amor verdadeiro, ainda sim acreditava nele.
Meus pais nunca foram o tipo de casal que se pode admirar. Não tenho nenhuma lembrança em que algum mostrasse afeto pelo o outro. Apesar de nunca terem se separado, nunca se quer os considerei como um 'casal'. Sabe aquele tipo de olhar apaixonado em que se dá pra ver a felicidade no brilho do olhar da pessoa só por ela estar perto de fulano? Então, nunca vi isso em nenhum dos dois. Embora sempre tivessem sido bons pais, não eram um bom casal. Talvez venha daí minha fascinação por casais da ficção e pelo amor.
Minha vontade de entender como é o amor, como é amar e ser amada sempre foi grande. E sem um exemplo real, eu me focava nos livros, mais especificamente nos contos de fadas. O amor sempre me pareceu ser algo mágico, capaz de transformar qualquer pessoa. Com isso eu tinha de exemplo a Fera que ao amar e ser correspondido pela Bela, tornou-se um lindo príncipe.
Então durante muito tempo minha busca pelo amor foi constante, mas também um fracasso. Não encontrei amor, não me apaixonei. E cada vez que eu procurava, parecia me afastar mais. Foi então quando desisti. Já havia me conformado: assim como minha mãe, eu não conheceria o amor verdadeiro, tampouco me casaria e viveria feliz para sempre. Ok. Isso soou bastante clichê e dramático, mas foi como me senti na época. E bem, eu não passava de uma garotinha que vivia com a cabeça presa em contos de fadas.
Então eu cresci. Esqueci toda essa busca tola pelo amor. Coloquei todos os meus livros de contos de fadas numa caixa e a deixei no fundo do guarda-roupa. Minhas prioridades passaram a ser outras. Agora eu já não era mais a garotinha dos livros de princesas, era uma garota qualquer que brincava de pique-esconde com as outras crianças do bairro e andava de bicicleta com os primos. Durante muito tempo me privei do prazer de ler aquelas histórias e tentei me convencer de quê príncipes, fadas madrinhas, amor verdadeiro e finais felizes não passavam de bobagens. Por um bom tempo consegui. Cheguei até mesmo a acreditar que o amor não passasse de uma utopia.
Até que um dia, um certo garoto de olhos castanhos me provou que eu estava errada. Estava errada sobre tudo. Sobre os contos de fadas. Sobre como eu acreditava ser o amor verdadeiro. Sobre como é se apaixonar. Devo dizer á você, meu caro, se apaixonar não é lá essas coisas. Claro, é bom saber que há alguém no mundo capaz de te arrancar seu sorriso até mesmo nos momentos mais difíceis, e, a sensação de felicidade e o frio na barriga de quando essa pessoa está por perto são coisas incomparáveis. Mas e o que vem depois disso tudo? A vida não é como em um conto de fadas. Nem sempre temos o final feliz esperado. Ás vezes o mocinho decide ficar com a vilã, e a mocinha acaba sozinha em um quarto chorando. Outras, a vida simplesmente decide brincar com os dois e os manda para longe deixando tudo nas mãos da distância e da saudade.
Sim, voltei a acreditar no amor. E acabei tendo a experiência que tanto quis. Como também acabei descobrindo que o amor não é lá essas coisas, e, que existem coisas mais importantes na vida do que encontrar um príncipe encantado. Mas uma coisa devo concordar com os contos de fadas, mais especificamente com a história da Bela e a Fera, nem sempre nosso príncipe encantado é aquele cara lindo dos nossos sonhos. Ás vezes ele é só aquele seu amigo desajeitado e tímido, que está ali o tempo todo pronto para te ouvir e te ajudar independente de qual seja a situação.

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