quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sobre o garoto dos olhos castanhos


Sempre fomos tão diferentes, em nada conseguíamos combinar. Eu tão singular, ele plural. Nunca suportei ser o centro das atenções, já ele fazia o que podia para ser notado. Enquanto eu ouço Beatles, ele curte um pagode. Enquanto eu estudo para o vestibular, ele sai pra jogar bola com os amigos. Eu prefiro show de rock, ele não abre mão de uma balada. Sou apaixonada pelo frio e pelo inverno, ele adora o calor e o verão. Eu planejo o futuro e ele bagunça o presente. Eu humanas, ele exatas. Eu refrigerante, ele vodca. Ele brisa, eu furacão. Ele filmes, eu livros. Vivemos em um pé de guerra constante, quase nunca conseguimos nos acertar. Ele sempre determinado a tentar me mudar, enquanto eu estou sempre determinada a não ceder.  Vivo me perguntando como foi que me apaixonei por alguém assim, tão diferente de mim. 
Somos de mundos diferentes. Ás vezes chego até mesmo pensar que não são mundos, mas sim universos diferentes. Enquanto tudo que eu quero é um pouco de calmaria, ele quer sempre bagunçar e agitar tudo. Lembro quando o conheci, o odiei logo de cara. Evitei esbarrar com ele durante vários meses, mas onde eu ia lá estava ele com aqueles olhos castanhos e aquele sorriso debochado. Fugi. Fugi o máximo que pude, o quanto aguentei. Resisti. Resisti até o último segundo. Mas foi impossível. Nós somos a definição exata daquela frase clichê que diz que os opostos se atraem. Antes dele nunca me imaginei ao lado de ninguém, e agora não me imagino mais sem tê-lo ao meu lado. É estranho, sabe? Sempre achei que para nos apaixonarmos por alguém, a pessoa devesse ser parecida com a gente. Sempre quando pensava em encontrar alguém, pensava em alguém que tivesse os mesmos gostos que eu. Mas aí ele chegou, botou o meu mundo de cabeça para baixo e começou a bagunçar a minha vida. Primeiro foi só amizade, depois o sentimento evoluiu e aos poucos foi saindo do controle, quando me dei conta tinha lotado a última matéria do meu caderno só com textos sobre ele.
No começo foi difícil, nossas diferenças pesaram muito. Tentei pular fora várias vezes por medo que não desse certo, ao contrário dele que sempre insistiu e acreditou na gente. Acreditou tanto que fez com que eu passasse a acreditar também. Foi essa fé cega dele em nós que nos manteve juntos durante todo esse tempo. Não vou negar, por diversas vezes desejei que fossemos mais parecidos. Desejei conseguir fazer, nem que fosse um pouco só, parte do mundinho dele. Mas o que posso fazer? Nós somos assim. Diferentes, tortos e errados. Por mais que tenhamos um bilhão de brigas por dia, não importa, o amor continua o mesmo. E no final do dia é ao lado dele que eu quero deitar, é no peito dele que eu quero poder descansar a cabeça e a mão dele que eu quero segurar. Não importa as brigas. Não importa nossas diferenças. Só importa tê-lo ali, ao meu alcance sussurrando besteiras e juras de amor no meu ouvido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário